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“Timeless” é uma das vertentes artísticas recentemente realizadas por Francesco e lançada há cerca de um ano, no “Museum Speelklok”, na cidade de Utrecht, na Holanda. Usando apenas a câmara fotográfica para capturar objetos, espaços e instantes, sem nenhuma configuração adicional de luz é a base deste novo projeto de Fotografia. Francesco usa a sua lente não apenas para olhar, mas para sentir e capturar o início de uma narrativa, em todas as fotografias e em todas a série.

Assim que entrei em contacto com este novo projeto, e devido à nossa colaboração frequente, fui naturalmente impulsionada a encontrar outros tipos de lugares mágicos e peculiares, em Portugal, para enriquecer essa nova série de fotografias.

O “Hospital de Bonecas” foi o local perfeito para uma nova reflexão. O lugar encantado que encontramos no centro da cidade de Lisboa é impressionante. Primeiro, as pessoas por trás deste conceito de consertar bonecas partidas como uma forma de preservação da memória para as gerações futuras; depois o próprio edifício - que na verdade foi um hospital e uma escola primária, onde as crianças também brincavam com bonecas e brinquedos. Por último, mas não menos importante, a coleção. A exposição cuidadosa e graciosa da coleção, reunindo milhares de bonecas, dispostas cronológica, temática ou geograficamente, é enriquecida com a visita guiada realizada por Manuela Cutileiro. Na sua voz, enquanto caminhamos pelas salas, podemos respirar a sua generosidade e a sua delicadeza, as quais usa para tratar as pessoas e as bonecas. A maior satisfação em cuidar das bonecas partidas e consertá-las, devolvendo-as na condição mais perfeita possível, está bem explicita nos seus olhos e na maneira como manuseia os bonecos/pacientes, de uma forma poética. Ficámos ainda mais apaixonados por este lugar.

Para mim, a ideia mais estimulante, enquanto curadora desta nova série, foi a de investigar essas bonecas como pessoas. Como elas se assemelham a nós, no nosso caminho pela vida, com tantas contradições, partidas em alguns aspetos, consertadas em outros. Uma parte da coleção é reservada a peças de substituição e de bonecas sem arranjo, mas que encontraram o seu lugar junto das outras, pertencendo, assim a cada cena do cenário. Como fazemos na vida, talvez?

Francesco representou o conceito de "todos estamos partidos" com grande mestria, usando várias abordagens para as fotografias, e de acordo com suas visões. A galeria que agora podemos apreciar é cheia de vida e histórias, expressões detalhadas, perspetivas amplas e até as sobras são elevadas ao tratamento sacral de uma ruína antiga que a História trouxe para nossos dias. Objetos e a veia artística de Francesco fluem nestas fotografias. A eterna busca pela beleza, agora como nos primeiros anos de sua carreira, independentemente dos recursos a serem utilizados.